12/02/2009

Confissões de uma leitora de corpos

Confesso, assumo que possuo um vício, a leitura de corpos alheios, corpos humanos

retratados em diversas formas, no corpo do livro, no cinema, em quadros e ao vivo.

O ponto crucial de minha fascinação é a possibilidade que o corpo humano possui

de ser um elemento expressivo que se permite desdobrar em infinitas significações,

são diversas janelas que abarcam inúmeros eu’s em um único espaço corpóreo.

Tento decifrá-los com o olhar, um olhar com os olhos, ouvidos e tato, ou seja, um

olhar com todos os sentidos, em um jogo de decifra-me ou te devoro, portanto,

mastigo o vidro e cuspo as interpretações.

Os corpos retratam histórias, seja por suas formas fisiológicas ou estéticas, como

as marcas faciais que surgem com o decorrer da narrativa (vida) ou com as marcas

criadas como as tatuagens, ambas potencializando vontades e recriando desejos e

ambas me interessam, não faço distinções, gosto de imaginar o motivo impulsionador,

como a tatuagem que traz coragem, embeleza ou amedronta caboclo como a figa de guiné.

Atualmente, inclui meu corpo ao meu vício e perpasso minha narrativa para os outros,

através da tatuagem que carrego em meu corpo, a tatuagem expressa o nome do meu

projeto experimental de conclusão de curso, ou seja, transcrevo em minha pele as

seguintes palavras: “O livro é o processo” e abro as portas da percepção.

Sigo como tela e suporte, sendo re-significada e lida a pleno olhos do outro que

fabulam novos eu’s de um mim, um eu que pode ser compreendido como um amante

de livros, uma pessoa dedicada ao projeto, um rito de passagem

ou um eu que simplesmente quis se tatuar pela experiência estética.

Quanto a qual significado eu dou

para a tatuagem, ainda não descobri, apenas acho que ela era nata em mim, mas sempre

existe a contradição um dos adjetivos mais humanos que existe, contudo sigo

a sina e vou tentando me decifrar e quando descobrir prometo avisar.


Yve Thomé

Processando textos/linguagens diversos

Início de O livro é o processo
















12/01/2009

Conclusão-processo

O objetivo do trabalho era criar um livro-objeto que utilizasse a web como suporte e que tomasse o corpo como um dos suportes para a escrita. Se a proposta inicial era essa, já fazíamos ideia de que não seria fácil justificar o uso de suportes muito distintos e tampouco dar ao produto final um caráter artístico.

No entanto, esse projeto nunca foi exclusividade dos três integrantes do grupo, várias colaborações de fora vieram para transformar esse livro-objeto em uma obra aberta – vale ressaltar que termo "obra aberta" é usa no sentido de expansão do processo criativo e não como ausência de critérios.

Da ideia inicial criamos diversos critérios em conjunto para os quais pedimos sempre o aval dos professores que nos orientaram e acreditamos que essa foi a nossa maior sorte.

Primeiramente a professora Renata nos orientou com bibliografia sobre semiótica, com Julio Plaza, e livro-objeto, com o Paulo Silveira. Mesmo depois de um ano trabalhando esse texto, a bibliografia indicada por ela foi a utilizada ao final, o que nos mostra também que ela possui bastante conhecimento do assunto e fez as escolhas certas no início de nossa caminhada. Também no período subsequente a esse pudemos contar com o apoio de professores que auxiliaram na produção com a incursão em outros ambientes teóricos para melhor adequação do projeto ao campo da Comunicação. E foi nesse período em que percebemos que esse trabalho parecia muito maior do que o esperado para um projeto experimental, mas que podíamos faze-lo e contaríamos com o apoio de que precisássemos.

Outra professora seria nossa orientadora no último período, porém como pode ser visto nos agradecimentos desse trabalho, o segundo orientador que havíamos escolhido foi uma das principais causas de termos conseguido chegar ao fim com praticamente tudo que propomos completado. É difícil nessa reflexão sobre o projeto constatar que alcançamos os nossos objetivos. Se levarmos em conta que queríamos fazer um livro-objeto multimidiático, hipertextual, metalinguístico etc, podemos dizer essa meta foi cumprida. Porém essa afirmação só diz respeito ao olhar do grupo sobre o projeto e o seu produto final, e depois de tanto tempo debruçado sobre o mesmo tema possivelmente estamos com o olhar viciado.


Nós pretendíamos compreender melhor os potenciais das linguagens no uso da web como suporte. Nossas experiências com outros sites de referência já nos davam noções do que gostaríamos de fazer para produzir nossa narrativa. Achávamos inclusive que já sabíamos dos potenciais do uso das linguagens. Escolhemos usar várias porque considerávamos que esse uso faria da nossa narrativa mais expressiva. Porém ainda não havíamos feito a tentativa nós mesmos de criar uma narrativa que fosse interessante para o leitor na web e que levasse em conta os recursos que esse suporte dá para a criação.

Já possuíamos experiências na criação escrita, como exemplo as publicações que um dos integrantes já tinha em um livro de contos e em um concurso literário feito no Portal Literal. Também já havia o grupo publicado uma revista e um site com o nome de “Os impublicáveis”, também de cunho literário. Com isso e com as disciplinas oferecidas pelo Promove de oficina de linguagens, pudemos compreender melhor os processos que envolvem a criação literária, em vídeo e fotografia, que foram todas utilizadas nesse projeto.

A produção de áudio e paisagens já foi um ponto em que tínhamos alguns problemas, pois não dispúnhamos de todo o material necessário para sua produção. Foram gravadas diversas falas, dos professores e nossas conversas sobre o projeto, entretanto não eram suficientes para criar um ambiente sonoro que pudesse ser chamado de paisagem. Por fim, o problema se resolveu com a ajuda do técnico de áudio e do nosso colega Gleison. Assim, conseguimos alguns elementos audiográficos que puderam nos auxiliar na produção dessas paisagens.

Durante a produção técnica, tivemos problemas que estavam dentro do esperado, como a falta de bateria em uma gravação de entrevista com um possível voluntário. Também durante a gravação da feitura da tatuagem na Yve – outra escolha que acabou sendo feita durante o projeto, e literalmente sorteado quando o tempo parecia curto – tivemos alguns problemas. Primeiro havia mais câmeras que gente para gravar e fotografar. Usamos um tripé, porém uma das câmeras estava com uma memória muito curta, sendo que ela possuía a melhor qualidade de gravação de áudio e o formato que melhor se adequaria aos programas de edição. Além disso, o gravador de áudio quebrou e não pudemos gravar a melhor entrevista com tatuadores que já tínhamos feito.

No início nós fizemos um convite para que alguém participasse, porém acabamos por não fazer a tatuagem em alguém externo ao grupo, pois tivemos problemas em encontrar alguém que fizesse a tatuagem da forma como a queríamos – a frase “O livro é o processo”.

Os motivos que analisamos como os responsáveis para que as pessoas desistissem de fazer a tatuagem são a falta de empenho em fazer o convite e envolver as pessoas para que elas resolvessem nos ajudar e também o fator pessoal da escolha de se fazer uma marca perene em seu corpo.

Mas acreditamos que esses problemas foram suplantados pela grandiosidade do material que conseguimos captar. Por exemplo, várias falas importantes e sintéticas sobre o trabalho de fazer um livro e da escrita sobre o corpo. Sabemos também que com o tempo encontraríamos ainda mais formas de contar a história da feitura desse livro-objeto que utiliza o corpo e a web como suporte.

A confirmação de que alcançamos a maior parte dos nossos objetivos tem vindo dos leitores de O livro é o processo, o feedback tem sido muito positivo, principalmente por nos mostrar que o tipo de leitura esperada para o interagentes do livro-objeto tem se dado tal qual idealizamos:
- o fato de o livro-objeto usar a internet como principal suporte para a sua veiculação, não tem feito com os leitores o confunda com um site
- a maior parte do leitores passaram da primeiridade para a terceiridade,
- os leitores têm voltado ao livro-objeto para novas leituras.

Fotografia de processo





10/06/2009

Três aparelhos eletrônicos para leitura que podem revolucionar o mundo das publicações para sempre, e um que não

Por KIT EATON Qui Set 17, 2009 Às 11:20 AM

Tudo bem, nós sabemos que a revolução do e-book está crescendo no horizonte, e que mais cedo ou mais tarde irá revolucionar o mundo das publicações. Mas quais serviços ou aparelhos eletrônicos serão a vanguarda e quais não?

Livro eletrônico Asustek, o E-Reader mais barato?


Asus foi a força motriz por trás da revolução do livro eletrônico, popularizando o conceito de pequeno, portátil, com baixo uso de energia e uma incrível acessibilidade em um mini-notebook como o Eee PC e seus seguidores. Há alguns meses nós descobrimos que a companhia tinha um leitor de livro eletrônico em mente também e intenciona aplicar alguns dos modos de pensar que usou para fazer do Eee um clássico.

Apenas há algumas semanas, o dispositivo ressurgiu nas notícias, com a asserção de que é realmente indicado e vai estar nas prateleiras muito em breve. Sua única característica são duas grandes telas de função touchscreen, imitando o formato de um livro tradicional mais do que qualquer outro e-reader já teve, ou criando a possibilidade de ser um livro a ser lido em um lado enquanto vc toma notas ou navega na web procurando mais informações no outro lado (o que seria perfeito para estudantes). Mas a característica de matar é o preço: Enquanto a versão mais elaborada custará mais, e terá alguns extras como conexão 3G (no local onde saiu a material, EUA), a máquina mais barata irá custar $160,00 (dólares), de acordo com Asus CEO Jerry Shen.

Esta pode ser o mais barato leitor de livros eletrônicos que existe. E pode, senhoras e senhores, transformar a venda desses leitores como o Eee PC transformou a venda dos computadores portáteis: vendendo como água para um novo mercado de consumidores.


Diga o que você gosta sobre as práticas de negócio de Rupert Murdoch (não, sério, diga o que você gosta: um monte de gente disse), mas ele ainda está indiscutivelmente situado no cargo de capitão no navio das publicações. Isso é graças ao poder aglomerador das suas “News Corporation”, que é uma dos maiores conglomerados de mídia do mundo, que possui influencia em jornais, revistas, livros, Tv e cinema. Então, quando as notícias das New Corp. dizem que há investimento de muito dinheiro em um leitor de livro eletrônico, o mundo toma nota.

Isso acontece porque quando “News Corp.” e o “grande capital” seguem dizendo a mesma coisa, você deve assumir a ênfase no “grande”. Pouco se sabe sobre o aparato atualmente, além do fato de que terá uma “grande tela”, maior que a do Kindle (talvez não que a do Kindle DX) e que será capaz de exibir quarto cores, contra a monocromia do Kindle. Esse caminho de imediato prima pela melhor apresentação da publicação de notícias do estilo de conteúdo de revista que a família Kindle.

Isso pode fazer com que a experiência de leitura seja mais confortável e a News Corp pode manter um melhor preço nas adições de cor para seus parceiros de publicidade.

Ainda no repertório do conteúdo das publicações do News Corp., a ideia de Murdoch pode ser cobrar pelas notícias online, em uma attitude bastante autista. E ao fato de ser cedo para uma mudança radical dos usuários de iPhone, pode ser cobrada uma taxa para os aplicativos de navegação das News Corp... e é bastante óbvio qualquer que seja o fim que o leitor de livros eletrônico de Murdoch será um importante marco na história da publicação.


Apple iTablet (barra Apple)

Muitos pedaços de colunas e pixels têm sido devotados para o místico Apple tablet, ou Barra Apple Mac que parece haver pouco a dizer. Mas vale a pena esclarecer sobre uma coisa que parece que não é valorizado nas discussões acerca desse dispositivo multimídia, navegador da web e com poderes de videogame: seu potencial uso para e-book.

Pense nisso: quando ele se perceber assim, poderá combinar tudo que a Apple aprendeu sobre computadores portáteis com o estável Mac, tudo que foi aprendido sobre gerenciamento de mídia dos seus produtos iPod, e tudo que foi aprendido sobre o desenvolvimento de design elegante para dispositivos portáveis com a função de touchscreen do iPhone. Apesar das outras discussões sobre leitores eletrônicos aqui, esse será o verdadeiro dispositivo de convergência, combinando um leque de diferentes capacidades em um único produto... e entre eles está o de livros eletrônicos. Por que comprar um “e-reader”, um iPod e um caderno ligado a internet, quando o iTablet pode fazer tudo?

Há uma discussão sobre a Apple estar tentando se envolver diretamente na publicação online de jogos, mas as especulações caíram por terra. Se a Apple estiver envolvido em algo, eu suspeito que será como um mero porteiro para um arquivo de e-books, inclusive como ferramenta integradora de livros-áudio já capacitados pelos iTunes e o programa do iPod. Mesmo sem assumir, vale notar que o aplicativo do Kindle da Amazon para o iPhone está indo muito bem, que há um sem-número de outros aplicativos para leitores de livro eletrônicos por aí, e que o iPhone tem um navegador que pode acessar publicações de notícia na web de qualquer forma.

Assim que você faz esses saltos lógicos, então fica fácil erceber como o iTablet vai mudar o mundo das e-publicações: Vai fazer com que isso exploda, assim como o iPod mudou os negócios da música e que o iPhone mudou o negócio dos telefones. Porque as pessoas irão comprar o iTablet. A Apple não diz nada, sobre o iTablet e seus potenciais usos como leitor de e-books, mas as evidências estão indicando que é nesse caminho.


Leitor da Microsoft

E então nós vamos ao leitor eletrônico que não irá mudar o mundo: o da Microsoft. Por quê? Bem, para começar, porque não vai ser o único. E depois, não existirá uma máquina física com a marca da Microsoft, como o MP3 player Zune .

A Microsoft praticamente definiu qual será sua ação no último mês, quando o presidente de Entretenimento e Dispositivos, Robbie Bach, disse " Sob uma perspectiva nesse ponto (...) nós estamos muito seletivos em quais áreas queremos entrar". O chefe do escritório de pesquisa da Microsoft, Craig Mundie ainda apoiou essa visão de dúvida da Microsoft sobre um marketing especializado dedicado aos leitores eletrônicos, já que os PC's oferecem a mesma função. Em outras palavras, Microsoft não vê vantagens em gastar dinheiro e tempo para desenvolver seu próprio leitor eletrônico, quando não é ainda claro se isso trará rendimentos futuros.

[...]


9/30/2009

Referências II

Sim, é uma linda imagem. Fazer tatuagens das suas músicas preferidas, será isso?. Todas de um só disco?. Bom, até que sim. No corpo parece uma narrativa, como é a ideia que a palavra album tem. Também parece que nossa idéia não é original. A capa do disco representa a identidade do disco incorporada à pele do sujeito que as tatuou.
Os outros exemplos de tatuagens que acabamos incorporando ao estoque de referências são de tatuagens de blogueiros ou de escritos literários.
Esse é um modo de tatuar no qual o sujeito incorpora (literalmente) o universo do qual se considera participante e/ou atuante (talvez eu pudesse usar a palavra interagente, como a usada por Lévy).
No próximo post, vamos tentar tratar de outro tipo de tatuagem de que tanto se fala: a criminal.
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Convite processo

Pedi ajuda para fazer um poster de convite. Faz tempo que pedi e tempo que recebi resposta, mas mostro agora as coisas que pensei...
Mostrei aquele convite que está lá embaixo e fiz o pedido.
O cartaz ficou lindo, bem parecido com o que eu pensei em fazer. Mas também ficou profissional.
Quando esse projeto for para o doutorado pode ser que alguém use esse fundo lindo.
Porém também descobri que eu não sabia o que fazer com esse fundo. Não sou profissional.
Recebi também uma coisa muito mais bem feita, com idéias de como fazer aquele rosto ficar parecendo mais um rosto.
Ou do corpo parecer mais um corpo.







A ideia do rosto surgiu para falar da escrita e corpo. Assim estaria o texto imagético "corpo" escrito por palavras.
Outras partes do corpo também eram bem vindas no que surgiu essa bela imagem futurista com as formas femininas. Exemplo dado por quem pedi ajuda antes.

Com essa imagem poderíamos pensar em um exemplo de convite feminino e um masculino.
Mas o feminino certamente pareceu bonito, apesar de encontrarmos diversos exemplos de tatuagens belíssimas, feitas por homens. Todas tendo como tema a escrita de alguma forma ou mostrando a identidade e sendo uma forma de expressão contemporânea.
Talvez não fosse essa a idéia inicial. Mas os exemplos surgiram e o projeto foi seguindo essa linha.
Pensamos então na justificativa para a tatuagem escolhida. Esrever o nome do projeto no corpo da pessoa de forma perene dá a essa tatuagem específica uma identidade, a identidade da pesquisa feita por nós e complementada pelo sujeito que surgisse como voluntário para essa experiência.

6/26/2009

Desabafo de quem tem que fazer revisão de projeto

"Todo mundo tem uma tese, ou mais de uma. Em geral as pessoas defendem suas teses. Alguns as defendem nos botequins, outros nos campos de batalha. Tem gente que invade países remotos para defender a tese do desarmamento, depois tem que se debater na TV para explicar que não encontrou as armas. Existe um tipo de tese defendida na academia, perante banca. Este tipo precisa de texto, reside nele. Acontece que esse texto precisa ser bom. Então surge um problema: a pessoa passou anos se ocupando de tanta ciência que cai nas armadilhas da língua. Aí o autor acaba tendo que defender o texto e não a tese. Claro, todos leram muito. Leram em diversas línguas. Escreveram bastante também. Mas quem leu não estava assim tão preocupado com o texto. A tese era mais importante. Tese a ser apresentada em texto para a defesa. Tese e texto se confundem. Não há como defender um se tem que defender o outro. O grande aliado do texto da tese é o revisor: personagem obscuro com a função de defender o texto. Sobra só a tese para o autor defender. A tese que vai para defesa assinada pelo revisor tem aval de autoridade sobre texto. "
Públio Athayde

Do blog da Editora Keimelion com o título Defendendo o texto

6/21/2009

A metáfora da escrita nômade

Os nômades são divididos, em basicamente, dois grupos distintos, os caçadores-coletores e os pastores. Ambos não têm uma habitação fixa e permanentemente mudam de lugar. A partir do comportamento desses grupos sociais, farei uma analogia com a leitura e escrita nos suportes tradicionais e no ciberespaço. Para pensar na produção literária e leitura em espaços tradicionais, também pegarei com exemplo os agricultores que se mantêm fixos em um determinado lugar onde se cultiva a terra, usam técnicas pré-estabelecidas e produzem dentro das limitações do solo em que certos tipos cultivos não são possíveis.

Com base na relação com o plantio, a definição hierárquica das habilidades e o convívio social, é formada a “cultura” dessas comunidades. Observando a cultura, como um sistema de símbolos compartilhados com que se interpreta a realidade e que dão sentido à vida dos seres humanos, nessa situação ela estaria estruturada e diretamente ligada ao espaço de convivência, aqui, fixo e estabelecido.

O processo de escrita e leitura dos símbolos disponíveis nessa comunidade, é estabelecido pela quantidade de tipos de “textos” a que se tem acesso; o espaço limitado pelo qual se trafega, como o texto impresso, que embora a leitura nos possibilite um tipo de navegabilidade ao criar conexões mnêmicas com o nosso repertório, por “requerer movimentos cooperativos, conscientes e ativos da parte do leitor” (Eco, 2004), está preso ao suporte, o livro; pela forma e o contexto da apropriação simbólica.

Os nômades, embora não tivessem habitação fixa e mudassem constantemente de lugar, ignorando até as fronteiras nacionais, seus percursos não podem ser considerados, de todo, errôneos, pois eles sempre estavam à procura de novos espaços que suprissem suas necessidades. Os nômades caçadores-coletores normalmente não possuem estruturas sociais hierarquizadas e não desenvolvem nenhum tipo de cultivo; suas habitações são construídas com materiais encontrados na natureza, bem como a alimentação que pode variar de acordo com o tipo de plantas e caça disponíveis no espaço e tempo em que eles estão. Conquanto façam uso de objetos como a cerâmica, essas comunidades não os produzem, sendo obtidos por meio de trocas.

Diferente dos agricultores que tem a cultura formada em um espaço definido e um contexto pouco mutável, a formação cultural dos nômades é baseada nas trocas simbólicas; na apropriação de traços da cultura de outros povos, como no uso de objetos que foram produzidos por integrantes de uma comunidade completamente distinta da sua e re-significado em um novo contexto; há uma ruptura das barreiras espaciais e temporais, como mudassem de um lugar ao fim da estação, buscando sempre uma região que estivessem no período do verão.

Sendo assim, a escrita nômade se dá em espaços imprevisíveis e indefinidos, através da colaboração, apropriação e re-significação, como se em cada lugar que o grupo se estabelecesse, por certo período, deixasse escrito na pedra um fragmento de texto, que seria completado em outra pedra em outro lugar e assim sucessivamente. Já a leitura desse hipertexto dificilmente seria percorrida da mesma forma com que foi escrita, pois não um mapa indicando o caminho da leitura, no entanto se tornaria mais significativa no momento em que o leitor complementasse o fragmento de texto encontrado na pedra, com a produção de outro texto em outra pedra e em um lugar diferente, conectando-se a pedra anterior.

Assim, “conexões e reinterpretações serão produzidas ao longo de zonas de contato móveis pelos agenciamentos e bricolagens de novos dispositivos que uma multiplicidade de atores realizarão” (Lévy, 1993). Mas nem toda leitura hipertextual produz conhecimento ou experiência significativa, o ciberespaço não fará tudo pelo leitor, assim como existe o nômade caçador-coletor, há também o nômade pastor, que sai em busca somente de pasto para seu gado e não de novas experiências.

Não um há como definir qual tipo de experiência, se com o texto escrito ou com o texto no ciberespaço, é mais significativa, pois elas se dão em diferentes espaços e tempos distintos. Assim com o agricultor tem sua experiência voltada para o conhecimento do solo, do tempo e das técnicas de plantio, o nômade tem o conhecimento embasado na mudança, na descoberta de novos espaços e percursos que ele constrói.

Robert de Andrade Oliveira

6/18/2009

Corpo Fechado


A doença em minha vida foi se embora
não deixou rastros e bateu o portão
a febre que causava não me cabe mais.


Os meus olhos cessaram de lhe procurar em
todos os cantos do meu ir e vir.


Meu corpo se fechou.


A tatuagem do meu vício e seus códigos estúpidos
dissiparam-se.
O seu bom senso nunca me vestiu bem.
A razão não é mais prisioneira do sentir.



O corpo não dissimula e a falta não é cretina.


Renovo meu abrigo
e sigo com
um sorriso descompromissado
e o corpo fechado.





Yve de Souza Thomé


(No meio de tanta teoria, um poema faz a gente respirar melhor)

6/15/2009

Livro-Objeto Multimídia ou Livro Multimídia Hipermidiático?

As discussões acerca das classificações das narrativas na web não são de hoje. Para engrossar o angu, vamos colocar em pauta 3 termos que usamos muito durante nosso projeto e que parecem hoje estar dentro do contexto de "agulha no palheiro", ou melhor (ou nem tão melhor), na REDE. Os termos serão: Livro-Objeto, Multimídia e Hipermídia.

Primeiro: Este (da figura) é um exemplo comercial do que podemos chamar de Livro-Objeto. O livro foi encontrado na lista dos melhores do ano de 2008 pela revista Crescer, ou seja, encontra-se classificado entre os "infantis".

Da editora Cosac Naify, é um objeto livro e um livro-objeto, ainda que "apenas" em papel, não deixa de ser de certa forma "multimídia" - aqui o segundo ponto.

R$ 35,00; capa dura;
48 pp.; 26,4 x 17 cm;
978-85-7503-263-3; 5.000 exemplares

de Peter Newell

Tradução: Alípio Correia de F. Neto

O formato inclinado deste livro nos dá uma pista do que o leitor irá encontrar ao abri-lo: um carrinho de bebê foge desgovernado ladeira abaixo, causando uma grande desordem por onde passa - atropela a moça que carrega uma cesta de ovos, derruba um pintor do alto de uma escada, passa pelo meio de dois homens com uma vidraça... Peter Newell marcou época na literatura infantil como precursor do livro-objeto, cujo formato traduz a ação da história. As ilustrações, que acompanham a linguagem rimada e divertida, lembram Nova York do começo do século XX, com forte inspiração nas telas de Hopper. Escrito em 1910, chega às livrarias em edição fac-similar. Um deleite para crianças de todas as idades.

E é por pensar que muitas coisas são multimídia, por extrapolarem o que o suporte tenderia a abarcar, que agora estamos em um impasse: será que um livro (mesmo que um livro-objeto já carregue esse sentido), pode ser tido como apenas multimídia? Será que multimídia não é pouco para as possibilidades que a web permite?

O processo "prossegue". As dúvidas vem. Ir não tem mais assento. Quer dizer, acento circunflexo. Temos que tomar cuidado para não nos fechar nos nossos círculos circunflexos de pesquisa e não pensar no que parece estar bem no nosso nariz.

O livro-objeto que propomos é multimídia e hipermidiático - nosso terceiro termo. Mas será que dizer tudo isso não é muito? Talvez pelo fato de ser um livro-objeto, ele não precise se dizer hipermidiático, pois a expressão consiste justamente em extrapolar o suporte, ou no mínimo, de usar as possibilidades que ele dispõe.

Uma das possibilidades da web é justamente a multimídia, então pra quê chamar o livro-objeto na web de multimídia? Quer dizer, isso foi logo com o computador... Mas o suporte isolado, depois que se desenvolveu através da ligação em rede entre esses computadores se tornou também hipermídia.

Os conceitos se entrelaçam e, acreditem!, não há uma convenção tão clara nessa rede... O que mais incomoda é que pensar em ciência é pensar em parcimônia, e assim eu diria que a experiência é fazer "apenas" um livro-objeto. Mas se não esclarecermos aos nossos orientadores que vamos fazer um livro-objeto multimídia na web (ou seja, hipermidiático), a experiência simplesmente fica no primeiro round, nocaute na criatividade, e "por que vocês não estudam um livro em vez dessa doidera toda?"