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9/30/2009

Referências II

Sim, é uma linda imagem. Fazer tatuagens das suas músicas preferidas, será isso?. Todas de um só disco?. Bom, até que sim. No corpo parece uma narrativa, como é a ideia que a palavra album tem. Também parece que nossa idéia não é original. A capa do disco representa a identidade do disco incorporada à pele do sujeito que as tatuou.
Os outros exemplos de tatuagens que acabamos incorporando ao estoque de referências são de tatuagens de blogueiros ou de escritos literários.
Esse é um modo de tatuar no qual o sujeito incorpora (literalmente) o universo do qual se considera participante e/ou atuante (talvez eu pudesse usar a palavra interagente, como a usada por Lévy).
No próximo post, vamos tentar tratar de outro tipo de tatuagem de que tanto se fala: a criminal.
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6/26/2009

Desabafo de quem tem que fazer revisão de projeto

"Todo mundo tem uma tese, ou mais de uma. Em geral as pessoas defendem suas teses. Alguns as defendem nos botequins, outros nos campos de batalha. Tem gente que invade países remotos para defender a tese do desarmamento, depois tem que se debater na TV para explicar que não encontrou as armas. Existe um tipo de tese defendida na academia, perante banca. Este tipo precisa de texto, reside nele. Acontece que esse texto precisa ser bom. Então surge um problema: a pessoa passou anos se ocupando de tanta ciência que cai nas armadilhas da língua. Aí o autor acaba tendo que defender o texto e não a tese. Claro, todos leram muito. Leram em diversas línguas. Escreveram bastante também. Mas quem leu não estava assim tão preocupado com o texto. A tese era mais importante. Tese a ser apresentada em texto para a defesa. Tese e texto se confundem. Não há como defender um se tem que defender o outro. O grande aliado do texto da tese é o revisor: personagem obscuro com a função de defender o texto. Sobra só a tese para o autor defender. A tese que vai para defesa assinada pelo revisor tem aval de autoridade sobre texto. "
Públio Athayde

Do blog da Editora Keimelion com o título Defendendo o texto

6/21/2009

A metáfora da escrita nômade

Os nômades são divididos, em basicamente, dois grupos distintos, os caçadores-coletores e os pastores. Ambos não têm uma habitação fixa e permanentemente mudam de lugar. A partir do comportamento desses grupos sociais, farei uma analogia com a leitura e escrita nos suportes tradicionais e no ciberespaço. Para pensar na produção literária e leitura em espaços tradicionais, também pegarei com exemplo os agricultores que se mantêm fixos em um determinado lugar onde se cultiva a terra, usam técnicas pré-estabelecidas e produzem dentro das limitações do solo em que certos tipos cultivos não são possíveis.

Com base na relação com o plantio, a definição hierárquica das habilidades e o convívio social, é formada a “cultura” dessas comunidades. Observando a cultura, como um sistema de símbolos compartilhados com que se interpreta a realidade e que dão sentido à vida dos seres humanos, nessa situação ela estaria estruturada e diretamente ligada ao espaço de convivência, aqui, fixo e estabelecido.

O processo de escrita e leitura dos símbolos disponíveis nessa comunidade, é estabelecido pela quantidade de tipos de “textos” a que se tem acesso; o espaço limitado pelo qual se trafega, como o texto impresso, que embora a leitura nos possibilite um tipo de navegabilidade ao criar conexões mnêmicas com o nosso repertório, por “requerer movimentos cooperativos, conscientes e ativos da parte do leitor” (Eco, 2004), está preso ao suporte, o livro; pela forma e o contexto da apropriação simbólica.

Os nômades, embora não tivessem habitação fixa e mudassem constantemente de lugar, ignorando até as fronteiras nacionais, seus percursos não podem ser considerados, de todo, errôneos, pois eles sempre estavam à procura de novos espaços que suprissem suas necessidades. Os nômades caçadores-coletores normalmente não possuem estruturas sociais hierarquizadas e não desenvolvem nenhum tipo de cultivo; suas habitações são construídas com materiais encontrados na natureza, bem como a alimentação que pode variar de acordo com o tipo de plantas e caça disponíveis no espaço e tempo em que eles estão. Conquanto façam uso de objetos como a cerâmica, essas comunidades não os produzem, sendo obtidos por meio de trocas.

Diferente dos agricultores que tem a cultura formada em um espaço definido e um contexto pouco mutável, a formação cultural dos nômades é baseada nas trocas simbólicas; na apropriação de traços da cultura de outros povos, como no uso de objetos que foram produzidos por integrantes de uma comunidade completamente distinta da sua e re-significado em um novo contexto; há uma ruptura das barreiras espaciais e temporais, como mudassem de um lugar ao fim da estação, buscando sempre uma região que estivessem no período do verão.

Sendo assim, a escrita nômade se dá em espaços imprevisíveis e indefinidos, através da colaboração, apropriação e re-significação, como se em cada lugar que o grupo se estabelecesse, por certo período, deixasse escrito na pedra um fragmento de texto, que seria completado em outra pedra em outro lugar e assim sucessivamente. Já a leitura desse hipertexto dificilmente seria percorrida da mesma forma com que foi escrita, pois não um mapa indicando o caminho da leitura, no entanto se tornaria mais significativa no momento em que o leitor complementasse o fragmento de texto encontrado na pedra, com a produção de outro texto em outra pedra e em um lugar diferente, conectando-se a pedra anterior.

Assim, “conexões e reinterpretações serão produzidas ao longo de zonas de contato móveis pelos agenciamentos e bricolagens de novos dispositivos que uma multiplicidade de atores realizarão” (Lévy, 1993). Mas nem toda leitura hipertextual produz conhecimento ou experiência significativa, o ciberespaço não fará tudo pelo leitor, assim como existe o nômade caçador-coletor, há também o nômade pastor, que sai em busca somente de pasto para seu gado e não de novas experiências.

Não um há como definir qual tipo de experiência, se com o texto escrito ou com o texto no ciberespaço, é mais significativa, pois elas se dão em diferentes espaços e tempos distintos. Assim com o agricultor tem sua experiência voltada para o conhecimento do solo, do tempo e das técnicas de plantio, o nômade tem o conhecimento embasado na mudança, na descoberta de novos espaços e percursos que ele constrói.

Robert de Andrade Oliveira