Confesso, assumo que possuo um vício, a leitura de corpos alheios, corpos humanos
retratados em diversas formas, no corpo do livro, no cinema, em quadros e ao vivo.
O ponto crucial de minha fascinação é a possibilidade que o corpo humano possui
de ser um elemento expressivo que se permite desdobrar em infinitas significações,
são diversas janelas que abarcam inúmeros eu’s em um único espaço corpóreo.
Tento decifrá-los com o olhar, um olhar com os olhos, ouvidos e tato, ou seja, um
olhar com todos os sentidos, em um jogo de decifra-me ou te devoro, portanto,
mastigo o vidro e cuspo as interpretações.
Os corpos retratam histórias, seja por suas formas fisiológicas ou estéticas, como
as marcas faciais que surgem com o decorrer da narrativa (vida) ou com as marcas
criadas como as tatuagens, ambas potencializando vontades e recriando desejos e
ambas me interessam, não faço distinções, gosto de imaginar o motivo impulsionador,
como a tatuagem que traz coragem, embeleza ou amedronta caboclo como a figa de guiné.
Atualmente, inclui meu corpo ao meu vício e perpasso minha narrativa para os outros,
através da tatuagem que carrego em meu corpo, a tatuagem expressa o nome do meu
projeto experimental de conclusão de curso, ou seja, transcrevo em minha pele as
seguintes palavras: “O livro é o processo” e abro as portas da percepção.
Sigo como tela e suporte, sendo re-significada e lida a pleno olhos do outro que
fabulam novos eu’s de um mim, um eu que pode ser compreendido como um amante
de livros, uma pessoa dedicada ao projeto, um rito de passagem
ou um eu que simplesmente quis se tatuar pela experiência estética.
Quanto a qual significado eu dou
para a tatuagem, ainda não descobri, apenas acho que ela era nata em mim, mas sempre
existe a contradição um dos adjetivos mais humanos que existe, contudo sigo
a sina e vou tentando me decifrar e quando descobrir prometo avisar.
Yve Thomé