12/02/2009

Confissões de uma leitora de corpos

Confesso, assumo que possuo um vício, a leitura de corpos alheios, corpos humanos

retratados em diversas formas, no corpo do livro, no cinema, em quadros e ao vivo.

O ponto crucial de minha fascinação é a possibilidade que o corpo humano possui

de ser um elemento expressivo que se permite desdobrar em infinitas significações,

são diversas janelas que abarcam inúmeros eu’s em um único espaço corpóreo.

Tento decifrá-los com o olhar, um olhar com os olhos, ouvidos e tato, ou seja, um

olhar com todos os sentidos, em um jogo de decifra-me ou te devoro, portanto,

mastigo o vidro e cuspo as interpretações.

Os corpos retratam histórias, seja por suas formas fisiológicas ou estéticas, como

as marcas faciais que surgem com o decorrer da narrativa (vida) ou com as marcas

criadas como as tatuagens, ambas potencializando vontades e recriando desejos e

ambas me interessam, não faço distinções, gosto de imaginar o motivo impulsionador,

como a tatuagem que traz coragem, embeleza ou amedronta caboclo como a figa de guiné.

Atualmente, inclui meu corpo ao meu vício e perpasso minha narrativa para os outros,

através da tatuagem que carrego em meu corpo, a tatuagem expressa o nome do meu

projeto experimental de conclusão de curso, ou seja, transcrevo em minha pele as

seguintes palavras: “O livro é o processo” e abro as portas da percepção.

Sigo como tela e suporte, sendo re-significada e lida a pleno olhos do outro que

fabulam novos eu’s de um mim, um eu que pode ser compreendido como um amante

de livros, uma pessoa dedicada ao projeto, um rito de passagem

ou um eu que simplesmente quis se tatuar pela experiência estética.

Quanto a qual significado eu dou

para a tatuagem, ainda não descobri, apenas acho que ela era nata em mim, mas sempre

existe a contradição um dos adjetivos mais humanos que existe, contudo sigo

a sina e vou tentando me decifrar e quando descobrir prometo avisar.


Yve Thomé

Processando textos/linguagens diversos

Início de O livro é o processo
















12/01/2009

Conclusão-processo

O objetivo do trabalho era criar um livro-objeto que utilizasse a web como suporte e que tomasse o corpo como um dos suportes para a escrita. Se a proposta inicial era essa, já fazíamos ideia de que não seria fácil justificar o uso de suportes muito distintos e tampouco dar ao produto final um caráter artístico.

No entanto, esse projeto nunca foi exclusividade dos três integrantes do grupo, várias colaborações de fora vieram para transformar esse livro-objeto em uma obra aberta – vale ressaltar que termo "obra aberta" é usa no sentido de expansão do processo criativo e não como ausência de critérios.

Da ideia inicial criamos diversos critérios em conjunto para os quais pedimos sempre o aval dos professores que nos orientaram e acreditamos que essa foi a nossa maior sorte.

Primeiramente a professora Renata nos orientou com bibliografia sobre semiótica, com Julio Plaza, e livro-objeto, com o Paulo Silveira. Mesmo depois de um ano trabalhando esse texto, a bibliografia indicada por ela foi a utilizada ao final, o que nos mostra também que ela possui bastante conhecimento do assunto e fez as escolhas certas no início de nossa caminhada. Também no período subsequente a esse pudemos contar com o apoio de professores que auxiliaram na produção com a incursão em outros ambientes teóricos para melhor adequação do projeto ao campo da Comunicação. E foi nesse período em que percebemos que esse trabalho parecia muito maior do que o esperado para um projeto experimental, mas que podíamos faze-lo e contaríamos com o apoio de que precisássemos.

Outra professora seria nossa orientadora no último período, porém como pode ser visto nos agradecimentos desse trabalho, o segundo orientador que havíamos escolhido foi uma das principais causas de termos conseguido chegar ao fim com praticamente tudo que propomos completado. É difícil nessa reflexão sobre o projeto constatar que alcançamos os nossos objetivos. Se levarmos em conta que queríamos fazer um livro-objeto multimidiático, hipertextual, metalinguístico etc, podemos dizer essa meta foi cumprida. Porém essa afirmação só diz respeito ao olhar do grupo sobre o projeto e o seu produto final, e depois de tanto tempo debruçado sobre o mesmo tema possivelmente estamos com o olhar viciado.


Nós pretendíamos compreender melhor os potenciais das linguagens no uso da web como suporte. Nossas experiências com outros sites de referência já nos davam noções do que gostaríamos de fazer para produzir nossa narrativa. Achávamos inclusive que já sabíamos dos potenciais do uso das linguagens. Escolhemos usar várias porque considerávamos que esse uso faria da nossa narrativa mais expressiva. Porém ainda não havíamos feito a tentativa nós mesmos de criar uma narrativa que fosse interessante para o leitor na web e que levasse em conta os recursos que esse suporte dá para a criação.

Já possuíamos experiências na criação escrita, como exemplo as publicações que um dos integrantes já tinha em um livro de contos e em um concurso literário feito no Portal Literal. Também já havia o grupo publicado uma revista e um site com o nome de “Os impublicáveis”, também de cunho literário. Com isso e com as disciplinas oferecidas pelo Promove de oficina de linguagens, pudemos compreender melhor os processos que envolvem a criação literária, em vídeo e fotografia, que foram todas utilizadas nesse projeto.

A produção de áudio e paisagens já foi um ponto em que tínhamos alguns problemas, pois não dispúnhamos de todo o material necessário para sua produção. Foram gravadas diversas falas, dos professores e nossas conversas sobre o projeto, entretanto não eram suficientes para criar um ambiente sonoro que pudesse ser chamado de paisagem. Por fim, o problema se resolveu com a ajuda do técnico de áudio e do nosso colega Gleison. Assim, conseguimos alguns elementos audiográficos que puderam nos auxiliar na produção dessas paisagens.

Durante a produção técnica, tivemos problemas que estavam dentro do esperado, como a falta de bateria em uma gravação de entrevista com um possível voluntário. Também durante a gravação da feitura da tatuagem na Yve – outra escolha que acabou sendo feita durante o projeto, e literalmente sorteado quando o tempo parecia curto – tivemos alguns problemas. Primeiro havia mais câmeras que gente para gravar e fotografar. Usamos um tripé, porém uma das câmeras estava com uma memória muito curta, sendo que ela possuía a melhor qualidade de gravação de áudio e o formato que melhor se adequaria aos programas de edição. Além disso, o gravador de áudio quebrou e não pudemos gravar a melhor entrevista com tatuadores que já tínhamos feito.

No início nós fizemos um convite para que alguém participasse, porém acabamos por não fazer a tatuagem em alguém externo ao grupo, pois tivemos problemas em encontrar alguém que fizesse a tatuagem da forma como a queríamos – a frase “O livro é o processo”.

Os motivos que analisamos como os responsáveis para que as pessoas desistissem de fazer a tatuagem são a falta de empenho em fazer o convite e envolver as pessoas para que elas resolvessem nos ajudar e também o fator pessoal da escolha de se fazer uma marca perene em seu corpo.

Mas acreditamos que esses problemas foram suplantados pela grandiosidade do material que conseguimos captar. Por exemplo, várias falas importantes e sintéticas sobre o trabalho de fazer um livro e da escrita sobre o corpo. Sabemos também que com o tempo encontraríamos ainda mais formas de contar a história da feitura desse livro-objeto que utiliza o corpo e a web como suporte.

A confirmação de que alcançamos a maior parte dos nossos objetivos tem vindo dos leitores de O livro é o processo, o feedback tem sido muito positivo, principalmente por nos mostrar que o tipo de leitura esperada para o interagentes do livro-objeto tem se dado tal qual idealizamos:
- o fato de o livro-objeto usar a internet como principal suporte para a sua veiculação, não tem feito com os leitores o confunda com um site
- a maior parte do leitores passaram da primeiridade para a terceiridade,
- os leitores têm voltado ao livro-objeto para novas leituras.

Fotografia de processo